Falar de relacionamento abusivo nos dias de hoje é uma pauta que exige esforço por parte de toda a sociedade. Isso é ainda mais evidente porque os sinais que envolvem essa circunstância podem ser difíceis de serem identificados.
Mas, é importante enfatizar que não se trata apenas do fato de que a violência contra mulheres cresceu, embora os números sejam ainda alarmantes em todos os sentidos. O fato é que mais mulheres passaram a encontrar coragem e caminhos para denunciar e expor o que passam na sua vida cotidiana. Muitos canais também passaram a ampliar esse espaço, bem como criou-se uma comunicação mais enfática sobre o tema.
Os próprios programas de entretenimento, como novelas, filmes e até mesmo a publicidade contribuíram para essa mudança. Mas, mesmo assim, ainda precisamos lidar com um constante aprendizado sobre o assunto. Falar sobre o tema, é cada vez mais necessário – porque é assim que as mudanças poderão acontecer.
Mesmo que muito já tenha sido feito, se pararmos para pensar em todo o cenário, ainda estamos vivenciando um retrocesso no debate público sobre a violência contra mulheres. Se por um lado elas ganharam espaço e notoriedade no debate político, por exemplo, ainda somos acometidos por notícias chocantes sobre agressões diversas que essas mesmas mulheres sofrem.
O fato é que nem sempre o abuso e todos os sintomas nocivos que ele carrega são envoltos por situações óbvias. Isso tanto é verdade que muitas mulheres acabam ainda permanecendo um relacionamento abusivo por não conseguirem enxergar a natureza dele. Em casos ainda piores, muitas mulheres ainda se sentem culpadas da condição do abuso – e, outras, não acreditam que a denúncia será capaz de as tirar de uma situação vulnerável. O medo, a vergonha, a sensação de culpa e tantos outros sofrimentos podem ser gatilhos para uma negação e a aceitação de que a condição é irreversível.
As consequências de um relacionamento abusivo
Muitas mulheres, principalmente, já podem ter vivenciado (ou ainda vivem) um relacionamento abusivo e sequer tem esse entendimento. Àquela sensação de sempre estar, de certa maneira, “pisando em ovos” é algo frequente. É um constante temor em ter cautela sobre o diz, faz ou até mesmo pensa.
Em muitos casos, esse tipo de relacionamento não envolve uma agressão física em si – mas, isso não quer dizer que ele não seja abusivo. É o que chamamos de abusivo psicológico – e, ele é até mesmo capaz de ser mais nocivo do que se imagina. O fato é que esse tipo de abuso está enraizado em nossa sociedade, por isso, identificá-lo é algo extremamente difícil.
Vale destacar que o abuso psicológico pode ser silencioso e acarretar efeitos perigosos. Primeiramente porque, outras pessoas, como amigos ou familiares não conseguem perceber o que está acorrendo. Em segundo lugar, porque o abusador consegue controlar e manipular a vítima, chegando a distorcer o senso de realidade.
O que envolve o abuso psicológico?
O problema é que o abuso psicológico apresenta um forte conteúdo emocional. Em grande parte dos casos, o abusador profere ameaças que são criadas com o intuito de forçar a vítimas a agir conforme seus desejos.
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Isso acaba impactando na autoestima da vítima, fazendo com que ela se sinta impotente e até mesmo sem esperança de que a vida poderia ser diferente. Além disso, a vítima tende a ser convencida de que é a maior culpada pelas agressões – o sofrimento e a responsabilidade são os principais pontos de conflito.
E, é justamente por esse motivo que é tão difícil uma vítima conseguir sair de um relacionamento abusivo. A culpa faz com que as ações sejam sempre guiadas na tentativa de fazer o melhor pelo relacionamento.
A terapia pode ser um divisor de águas
Ajudar uma pessoa que vivencia um relacionamento abusivo envolve cuidado. Pessoas próximas, que percebam que algo está errado, podem tentar ajudar, estabelecendo um elo e um espaço que agregue segurança. Além disso, tentar mostrar que existe uma condição de agressão com um diálogo empático e também enfatizar que não existe culpa por parte dela é um passo fundamental.
Nesse processo, a terapia pode ser uma aliada fundamental. Por meio dela, a vítima poderá obter não somente ajuda para enxergar a realidade dos fatos, mas também perceber o valor da sua autoestima. Tudo isso é ainda somado à quebra de correntes psicológicas e ainda emocionais em relação ao abusador. Será preciso ainda lidar com traumas e, claro, todo o sofrimento que é resultado de um relacionamento nocivo.
Os sinais de que uma pessoa está passando por um relacionamento abusivo
Em geral, os abusadores possuem um terrível talento em serem realmente eficientes quando se trata de causar sofrimento e manter o controle de suas vítimas. E, em muitos casos, eles são tão bons nesse processo, que é até mesmo difícil identificar quem eles são.
Consiste em uma maneira bastante sofisticada em manter o controle sobre o que a vítima quer, pensa e até mesmo sobre quem é ou merece dentro de um relacionamento. Basicamente, é uma inversão de valores com requinte de crueldade.
Por isso, alguns sinais podem ajudar a identificar um relacionamento abusivo:
- A vítima é exposta a constantes humilhações e embaraços;
- Sua autoestima é sempre colocada para baixo;
- As críticas são frequentes e, na maioria das vezes, sem qualquer justificativa;
- A recusa em manter o diálogo, principalmente quando há um problema, é recorrente;
- Casos extraconjungais também podem ser um comportamento comum;
- Ignorar ou excluir, mesmo diante de outras pessoas;
- Abusadores costumam usar muito do sarcasmo e até mesmo um tom de voz desagradável;
- Em muitos casos, o abusador pode nutrir inveja irracional e diminuir as conquistas da vítima;
- Ameaças, xingamentos e piadas nocivas, principalmente sobre a aparência da vítima;
- Dominação e controle sobre tudo que faz parte do relacionamento;
- Recorre ao dinheiro para manipular a vítima;
- Liga, envia várias mensagens ou surpreende a vítima pessoalmente;
- Em uma tentativa de término, enfatiza seu amor, ameaça suicídio, entre outras ações.
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É importante reiterar que, diante desses e outros sinais é fundamental buscar ajuda, não apenas de pessoas de confiança, mas também psicológica. Isso ajudará a identificar o relacionamento abusivo e até mesmo orientar sobre como agir. A culpa nunca deve ser atribuída à vítima.